segunda-feira, 4 de abril de 2011

Será o homem capaz de voar? – Parte II



Material baseado em análise apresentada por mim, em 2010, no curso de Especialização em Gestão da Comunicação (GestCom), na Universidade de São Paulo (USP) - Escola de Comunicação e Artes (ECA) - disponível aqui


Entre as diferentes versões do personagem ao longo dos anos, Superman – O Filme é considerado uma das mais bem sucedidas por crítica e público.  De acordo com o site Omelete, o filme “é considerado, ainda hoje, a versão definitiva do personagem pela maioria dos fãs e pelo grande público de modo geral (...) tornando-se um marco na história do cinema e o padrão para adaptações de quadrinhos de super-heróis”

Os realizadores admitiram que investiram em um abordagem bíblica do personagem: os figurinos e cenários de Krypton assumem ar futurista, completado pelo diálogos eloqüentes dos personagens e das metáforas cristãs faladas por Jor-El ao filho; Em Smallville, é ressaltada a importância de Martha e Jonathan na criação de Clark, sendo a morte do pai um marco para o amadurecimento do Clark adolescente.

Clark então parte para o Ártico e, a partir de um cristal que o acompanhara em sua forma a Fortaleza da Solidão, palácio com aparência de cristal e local onde mantém contato com o espírito de Jor-El e aprende sobre sua missão, de “inspirar a humanidade através de seus atos”. A exemplo da história de Cristo, há outra passagem de tempo, na qual o personagem reaparece adulto, já trajando o tradicional uniforme do Superman. 

Apesar da extrema competência na composição das cenas de ação e efeitos visuais, um dos pontos fortes do filme é justamente a humanização do personagem, favorecendo a identificação do espectador, em meio aos super-poderes de vôo, força quase indestrutível, visão de raio-x, visão de calor, super-sopro... 



E em uma decisão mais do que acertada, Richard Donner enfocou o filme na no romance do Superman e Lois Lane e na dicotomia entre o personagem-título com o alter ego Clark Kent. Superman até contraria orientação de Jor-El em não interferir no curso da história: depois de Lois Lane morrer vitimada por uma avalanche provocada pelo plano de Luthor, o herói reverte um movimento de rotação da Terra, para voltar o tempo e salvar a amada.  O trecho é interpretado como importante para mostrar a humanidade do personagem, que venceu um grande desafio motivado pelo amor. 

O site Omelete, em uma análise que assino embaixo, credita à atuação de Christopher Reeve fator fundamental para o sucesso do projeto, a qual classifica como “proeza única”. Para fazer justiça completa, acrescento ao comentário a importância da interpretação de Margot Kidder, responsável por uma química perfeita entre o casal protagonista. Reproduzo trecho do site:

“No lado heróico, Reeve decidiu não exagerar, permitindo que a fantasia agisse por si própria. Os tempos haviam mudado desde a interpretação de George Reeves na série televisiva, portanto acreditava que um Super-Homem mais humilde seria ideal. Para Clark Kent, inspirou-se no ator Cary Grant, compondo um tipo desajeitado e inseguro. A química funcionou perfeitamente, conforme o modelo dos quadrinhos. Lois ficava deslumbrada na presença do Super-Homem, e não se impressionava com Clark. A cena em que o Super-Homem voa com Lois Lane e ouvimos seus pensamentos é de uma beleza incomparável e encanta qualquer um.”

Assista à cena clicando aqui


Em razão de desentendimentos, Richard Donner foi afastado da direção de Superman II - A Aventura Continua e não finalizou a produção, lançada em 1980. O diretor Richard Lester concluiu os 30% restantes às filmagens, acrescentou à história elementos de humor e modificou a concepção de algumas cenas de ação, tornando-as mais dinâmicas. Com a saída do diretor, Marlon Brando também deixou a produção, inutilizando seqüencias filmadas por ele.

No segundo filme, além de Luthor, Superman enfrenta três vilões kryptonianos liderados pelo General Zod, que pretendem dominar a Terra. Os invasores haviam sido banidos de Krypton após serem julgados pelo conselho de sábios do planeta, denunciados por Jor-El por traição, ficando presos em um portal na Zona Fantasma, que por uma falha de segurança acaba enviado à Terra. 



Superman acaba se culpando pelo episódio, pois enquanto ele se negou a dominar o mundo, os vilões alienígenas colocam em prática sem dilemas morais ou de consciência. Quanto ao romance com Lois Lane, o filme abordou aspectos considerados polêmicos pelos fãs, pois Clark Kent revela sua identidade secreta e abre mão dos poderes para viver como “cidadão comum” ao lado de Lois.

O casal chega a promover um jantar romântico na Fortaleza da Solidão, inclusive com a sugestão de uma relação sexual no interior do local. No decorrer do filme, Clark retoma os poderes diante da destruição provocada por Zod e seus aliados. Em uma das últimas cenas do filme, Clark dá um beijo em Lois, que depois demonstra ter se esquecido do segredo que ele havia lhe revelado, fato que não fica absolutamente claro para o público. 



A franquia cinematográfica continuou com Superman III (1983) e Superman IV – Em Busca da Paz (1987). Bem abaixo do padrão de qualidade dos dois primeiros, os filmes foram duramente criticados pelos especialistas e pelo público, afastando o Homem de Aço das telas de cinema pelos próximos 19 anos. 

Neste período, o personagem continuou sofrendo diversas adaptações nas HQs, desenhos animados e em seriados de TV, sempre tendo como base a concepção de Richard Donner e o romance entre Superman / Clark e Lois.  Superman – O Retorno desconsiderou os últimos dois filmes, se inserindo na cronologia como uma seqüência de Superman II. 

E justamente este aspecto o responsável por despertar o amor e o ódio dos fãs em proporções iguais, levando ao fim da Era Donner – assunto que detalharei depois. 

2 comentários:

  1. "Em uma das últimas cenas do filme, Clark dá um beijo em Lois, que depois demonstra ter se esquecido do segredo que ele havia lhe revelado, fato que não fica absolutamente claro para o público"

    o SuperMan de reeve se passa na Era de Bronze das Hqs e naquele período o SuperMan tinha poderes hipnóticos

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  2. Bruno, sempre fui defensor desta teoria. Apesar disto, há quem não via desta forma, e defendia que Lois apenas fingiu não saber nos filmes pós Donner. Já Bryan Singer pensou desta forma, e Lois não sabia nada de fato em Returns.

    Até mesmo, eu achei que repetiriam o recurso no último episódio de Smallville, devidas às várias referências ao universo de Donner na série, mas fizeram a opção de Lois não se esquecer de nada (o que também achei válido, pelo contexto que criaram).

    obrigado, abraço!

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