Material baseado em análise apresentada por mim, em 2010, no curso de Especialização em Gestão da Comunicação (GestCom), na Universidade de São Paulo (USP) - Escola de Comunicação e Artes (ECA) - disponível aqui
Ao longo de 14 anos, a Warner Bross e a DC Comics engavetaram vários projetos cinematográficos envolvendo o Último Filho de Krypton. Até que em 2002, o estúdio contratou o diretor Bryan Singer para comandar a produção de “Superman - O Retorno”. Desde o início, achei a opção muito acertada, por considerá-lo um dos mais talentosos profissionais de Hollywood.
Entre suas maiores qualidades, estão a profundidade psicológica dos seus personagens e diálogos intensos. Singer já havia demonstrado sua afinidade com o universo dos super-heróis nos dois primeiros filmes da trilogia X-Men, aclamados por crítica e público. Fã confesso do Homem de Aço desde criança, o desafio de fazê-lo voltar às telas fez Singer abandonar suas funções em X-Men – O Confronto Final.
A produção usou diversas referências aos dois filmes originais da série e a elementos históricos do herói, aspectos ressaltados pela campanha de divulgação antes de durante sua exibição, com ações intensas de publicidade, jornalismo e licenciamento de produtos. Singer comandou a produção então partindo da premissa de “respeito ao passado e a consciência universal que todo mundo tem sobre o icônico personagem”.
A ação do roteiro levou em conta os temas dos filmes de 1978 e 1980, com pequenas alterações e atualizações: a trilha sonora de John Williams passou por releitura pelo compositor John Ottman; Marlon Brando voltou a encarnar Jor-El, com o tratamento digital de cenas descartadas do 2º filme; e o romance de Superman e Lois Lane foi mais intensificado.
Superman retorna à Terra depois de cinco anos ausente, período em de reflexão pessoal sobre suas origens e sua missão no planeta. Neste intervalo de tempo, Lois seguiu sua vida: se tornou mãe de Jason, um garoto com pouco menos que cinco anos; ficou noiva de Richard Withe, sobrinho do editor do jornal Planeta Diário, Perry Withe; profissionalmente, recebeu o Pulitzer, o máximo do jornalismo norte-americano, pela reportagem “O mundo precisa do Superman?”.
Enquanto isto, Lex Luthor deixou a cadeia e se tornou único herdeiro de uma idos milionária idosa com quem se casara, dando início então ao seu maior plano, que pode torná-lo o homem mais poderoso do planeta. A partir do cristal kryptoniano que formou a Fortaleza da Solidão, ele formaria um novo continente para, a exemplo do primeiro filme, lucrar com a venda de terras. Entretanto, o plano atual é mais ambicioso, pois a energia desprendida pelo cristal deixaria os Estados Unidos submersos.
As expectativas dos espectadores quanto às menções aos filmes originais começam pela abertura: uma atualização da tecnológica das utilizadas nas produções anteriores, com a exibição dos créditos durante a música “Superman”, John Willis. Imediatamente, a situação me levou a uma emoção intensa, ao despertar em mim a mesma emoção quando assisti Superman – O Filme pela 1ª vez - pela televisão, em versão dublada, 8 ou 9 anos depois do lançamento, quando tinha entre 4 e 5 anos de idade... As referências continuam durante os 154 min. do filme, remetendo a situações e acontecimento referentes à produção do filme, a cronologia do personagem em outras mídias e, até mesmo, ao elenco da produção original.
Assim como Richard Donner, Bryan Singer entregou a função de protagonista a Brandon Routh, ator estreante, com características físicas semelhantes às de Christopher Reeve - reforçadas pelo uso de lentes de contatos azuis durante as filmagens e o estilo de interpretação – muito elogiado por ter ficado “igualzinho ao Christopher Reeve”. O desempenho de Reeve nos filmes entre 1978 e 1987 fez com que ele fosse encarado por muitos como a “encarnação definitiva do Superman”. Até mesmo nos quadrinhos e desenhos animados, o Homem de Aço passou a ter olhos azuis.
Suas características inclusive influenciaram seriamente, não só fisicamente, os intérpretes do kryptoniano que o sucederam em seriados de TV, casos de Dean Cain (Lois & Clark - As Novas Aventuras do Superman) e Tom Welling (o jovem Clark Kent de Smallville). Os fatores foram reforçados por uma tragédia pessoal: em 1995, Reeve ficou tetraplégico devido à queda de um cavalo. Até falecer, em 2004, o ator empregou sua imagem e recursos financeiros visando o tratamento de pessoas com paralisias e pesquisas científicas na área.
A mesma premissa vale para Lois Lane, que desde então sempre passou a ser representada pelo espírito corajoso, destemido, romântico, bem humorado e desastrado eternizado por Margot Kidder. E missão de viver a eterna paixão do Homem de Aço foi exercida com extrema competência em Superman – O Retorno pela então novata Kate Bosworth. Já Gene Hackman foi substiuído na pele de Luthor pelo astro Kevin Spacey.
O reencontro de Superman e Lois Lane depois de cinco anos da ausência do herói remete ao momento em que os dois se conheceram nos quadrinhos na década de 1940, ocasiões em que ele impediu a queda de um avião com ela passageira. A diferença é que em “Superman – O Retorno” o salvamento acontece dentro de um estádio durante um jogo de beisebol que estava sendo transmitido ao vivo pela televisão.
Esta seqüência do filme é marcada por uma trilha sonora de tensão e emoção – com milhares de pessoas vibrando pela volta do Superman, acompanhando seu retorno pessoalmente ou pela televisão. A cena serve de metáfora ao retorno do personagem ao cinema de 19 anos, com os espectadores do jogo simbolizando a emoção de milhões de fãs espalhados pelo mundo.
As seqüências de ação e emoção continuam se intercalando ao longo da produção, despertando as mais intensas reações dos espectadores. Aliás, uma dos maiores características de Superman – O Retono se dá justamente no contraponto entre a humanização e a divinização do personagem - elevados à extrema potência, permitindo classificá-lo como extremo sucesso ou extremo fracasso.
De fato, sabemos apenas que a Era Donner acabou e uma nova se iniciará. E este é o assunto do último texto deste especial.
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