terça-feira, 5 de abril de 2011

Será o homem capaz de voar? – Parte III

E mais uma vez, um certo vôo emocionou milhões de espectadores...


Material baseado em análise apresentada por mim, em 2010, no curso de Especialização em Gestão da Comunicação (GestCom), na Universidade de São Paulo (USP) - Escola de Comunicação e Artes (ECA) - disponível aqui


Ao longo de 14 anos, a Warner Bross e a DC Comics engavetaram vários projetos cinematográficos envolvendo o Último Filho de Krypton. Até que em 2002, o estúdio contratou o diretor Bryan Singer para comandar a produção de “Superman - O Retorno”. Desde o início, achei a opção muito acertada, por considerá-lo um dos mais talentosos profissionais de Hollywood.

Entre suas maiores qualidades, estão a profundidade psicológica dos seus personagens e diálogos intensos. Singer já havia demonstrado sua afinidade com o universo dos super-heróis nos dois primeiros filmes da trilogia X-Men, aclamados por crítica e público. Fã confesso do Homem de Aço desde criança, o desafio de fazê-lo voltar às telas fez Singer abandonar suas funções em X-Men – O Confronto Final.

A produção usou diversas referências aos dois filmes originais da série e a elementos históricos do herói, aspectos ressaltados pela campanha de divulgação antes de durante sua exibição, com ações intensas de publicidade, jornalismo e licenciamento de produtos. Singer comandou a produção então partindo da premissa de “respeito ao passado e a consciência universal que todo mundo tem sobre o icônico personagem”.



A ação do roteiro levou em conta os temas dos filmes de 1978 e 1980, com pequenas alterações e atualizações: a trilha sonora de John Williams passou por releitura pelo compositor John Ottman; Marlon Brando voltou a encarnar Jor-El, com o tratamento digital de cenas descartadas do 2º filme; e o romance de Superman e Lois Lane foi mais intensificado.

Superman retorna à Terra depois de cinco anos ausente, período em de reflexão pessoal sobre suas origens e sua missão no planeta. Neste intervalo de tempo, Lois seguiu sua vida: se tornou mãe de Jason, um garoto com pouco menos que cinco anos; ficou noiva de Richard Withe, sobrinho do editor do jornal Planeta Diário, Perry Withe; profissionalmente, recebeu o Pulitzer, o máximo do jornalismo norte-americano, pela reportagem “O mundo precisa do Superman?”.

Enquanto isto, Lex Luthor deixou a cadeia e se tornou único herdeiro de uma idos milionária idosa com quem se casara, dando início então ao seu maior plano, que pode torná-lo o homem mais poderoso do planeta. A partir do cristal kryptoniano que formou a Fortaleza da Solidão, ele formaria um novo continente para, a exemplo do primeiro filme, lucrar com a venda de terras. Entretanto, o plano atual é mais ambicioso, pois a energia desprendida pelo cristal deixaria os Estados Unidos submersos.



As expectativas dos espectadores quanto às menções aos filmes originais começam pela abertura: uma atualização da tecnológica das utilizadas nas produções anteriores, com a exibição dos créditos durante a música “Superman”, John Willis. Imediatamente, a situação me levou a uma emoção intensa, ao despertar em mim a mesma emoção quando assisti Superman – O Filme pela 1ª vez - pela televisão, em versão dublada, 8 ou 9 anos depois do lançamento, quando tinha entre 4 e 5 anos de idade... As referências continuam durante os 154 min. do filme, remetendo a situações e acontecimento referentes à produção do filme, a cronologia do personagem em outras mídias e, até mesmo, ao elenco da produção original.

Assim como Richard Donner, Bryan Singer entregou a função de protagonista a Brandon Routh, ator estreante, com características físicas semelhantes às de Christopher Reeve - reforçadas pelo uso de lentes de contatos azuis durante as filmagens e o estilo de interpretação – muito elogiado por ter ficado “igualzinho ao Christopher Reeve”. O desempenho de Reeve nos filmes entre 1978 e 1987 fez com que ele fosse encarado por muitos como a “encarnação definitiva do Superman”. Até mesmo nos quadrinhos e desenhos animados, o Homem de Aço passou a ter olhos azuis.



Suas características inclusive influenciaram seriamente, não só fisicamente, os intérpretes do kryptoniano que o sucederam em seriados de TV, casos de Dean Cain (Lois & Clark - As Novas Aventuras do Superman) e Tom Welling (o jovem Clark Kent de Smallville). Os fatores foram reforçados por uma tragédia pessoal: em 1995, Reeve ficou tetraplégico devido à queda de um cavalo. Até falecer, em 2004, o ator empregou sua imagem e recursos financeiros visando o tratamento de pessoas com paralisias e pesquisas científicas na área.

A mesma premissa vale para Lois Lane, que desde então sempre passou a ser representada pelo espírito corajoso, destemido, romântico, bem humorado e desastrado eternizado por Margot Kidder. E missão de viver a eterna paixão do Homem de Aço foi exercida com extrema competência em Superman – O Retorno pela então novata Kate Bosworth. Já Gene Hackman foi substiuído na pele de Luthor pelo astro Kevin Spacey.

O reencontro de Superman e Lois Lane depois de cinco anos da ausência do herói remete ao momento em que os dois se conheceram nos quadrinhos na década de 1940, ocasiões em que ele impediu a queda de um avião com ela passageira. A diferença é que em “Superman – O Retorno” o salvamento acontece dentro de um estádio durante um jogo de beisebol que estava sendo transmitido ao vivo pela televisão.


Esta seqüência do filme é marcada por uma trilha sonora de tensão e emoção – com milhares de pessoas vibrando pela volta do Superman, acompanhando seu retorno pessoalmente ou pela televisão. A cena serve de metáfora ao retorno do personagem ao cinema de 19 anos, com os espectadores do jogo simbolizando a emoção de milhões de fãs espalhados pelo mundo.

As seqüências de ação e emoção continuam se intercalando ao longo da produção, despertando as mais intensas reações dos espectadores. Aliás, uma dos maiores características de Superman – O Retono se dá justamente no contraponto entre a humanização e a divinização do personagem - elevados à extrema potência, permitindo classificá-lo como extremo sucesso ou extremo fracasso.

De fato, sabemos apenas que a Era Donner acabou e uma nova se iniciará. E este é o assunto do último texto deste especial.

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