Apesar da desconfiança inicial com uma história contada e recontada há mais de 40 anos e da crescente tendência de Hollywood em criar prelúdios para tramas conhecidas, “Planeta dos Macacos: A Origem” merece ser assistido. Há tempos, um filme de ficção científica não me prendia de tal maneira, com um roteiro extremamente bem construído, cenas de ação que mantém um alto grau de adrenalina de forma permanente, permeadas por boas doses de emoção e reflexão.
Inspirado em um romance homônimo, escrito em 1963 pelo francês Pierre Boulle, “O Planeta dos Macacos” iniciou sua trajetória nos cinemas em 1968, um estrondoso sucesso de crítica e público, por apresentar avançados efeitos especiais para a época e um roteiro com forte teor social, principalmente se contextualizarmos o cenário político da Guerra Fria em que o mundo vivia. A obra ainda remete a alguns clássicos universais, como “A Revolução dos Bichos”, de George Orwell
Quatro filmes, um seriado e alguns especiais de TV e incontáveis reprises no SBT depois, o livro teve uma nova releitura nos cinemas em 2001, conduzida com grande competência pelo cineasta Tim Burton, com algumas referências ao filme original. E é mais ou menos este o espírito da “Origem”, que resolveu contar como todo aquele universo conhecido teria começado e concentra sua principal força no chimpanzé César.
Transportado para os dias atuais, Will (James Franco) é um cientista que trabalha no desenvolvimento de uma cura para o Mal de Alzheimer, com a motivação de curar seu pai da doença (inspiradíssima atuação de John Lithgow). Com a suspensão das pesquisas pelo laboratório, Will leva um filhote recém-nascido de um dos animais usados como cobaia para sua casa. Batizado pelo pai do cientista em referência ao imperador romano Júlio César, o primata logo demonstra uma superinteligência e desenvolvimento assustadores, ao mesmo tempo em que se constroem fortes laços de amor entre ele e a família.
E de forma coerente à saga na qual o filme remete, sua gênese deixa claro que os acontecimentos trágicos que se sucedem começam nas muitas falhas de caráter de nós, seres humanos. Assim, desta vez, estão presentes a ignorância e a intolerância nas relações pessoais, os maus tratos aos animais, a ganância pelo lucro sem qualquer preocupação com as conseqüências, o sentimento de exclusão e a falta de afeto, brilhantemente conduzidos pelo diretor Rupert Wyatt, com roteiro de Rick Jaffa e Amanda Silver.
A tecnologia atual auxilia muito neste convencimento. A humanização de César é simplesmente impecável, o que nos leva a muitos momentos a duvidar se não estamos diante de um verdadeiro chimpanzé evoluído geneticamente. Mais uma vez, se somam neste trabalho a mágica tecnológica e o talento do ator Andy Serkis, que já emprestou sua expressão corporal para o protagonista de “King-Kong” (2005) e Smeagol da trilogia “O Senhor dos Anéis” (2001-2003).
Seus companheiros símios também não deixam nada a desejar, o que garante grandes sequências do filme capazes de prender a atenção da platéia mesmo sem um único diálogo. E por meio de gestos e urros, eles conduzem a épica seqüência final pela cidade de San Francisco, que, não por acaso, nos lembra grandes batalhas do Império Romano. E que mesmo sabendo em qual lugar esta história vai acabar, nos faz torcer com todas as forças pelos primatas...
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