|
Foto: Tiago Queiroz / Agência Estado |
Sempre defenderei ardorosamente a universidade pública, gratuita e de qualidade no Brasil. Muito do que sou e penso, devo a uma verdadeira vida que passei durante os 4 anos em que permaneci na Universidade Estadual Paulista (Unesp), onde me graduei em Jornalismo pela Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação (Faac), no campus Bauru, em 2005. Cinco anos depois, embora em um contexto diferente, conclui um curso de especialização, pela Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP) - a qual espero retornar em breve.
Além da qualidade do ensino, dos professores e das inúmeras oportunidades de conhecimento, uma das coisas que mais me fascina na universidade pública é o fato de elas serem uma espécie de “universo paralelo”. É inigualável a experiência de se conviver com tamanha diversidade humana, levando em conta a formação familiar, localização geográfica, educação formal, orientação política, religiosa, sexual, entre outras. Isto fora o próprio ambiente, que te possibilita conhecer várias linhas de pensamento, leitura, pesquisa e estudos diferentes.
Mesmo assim, há algo em comum, pelo menos, para a maioria dos universitários: é um ideal de contestação e mudanças que você carrega dentro de si. Não digo um ideal revolucionário ou orientação partidária, mas sim um sentimento puro, em especial, quando você acaba de completar 18 anos, gosta de se manter bem informado e opta por um curso superior em Comunicação Social.
Entretanto, lembro que, logo de cara, alguns fatores me fizeram perder um pouco deste encantamento. O movimento estudantil foi o principal deles, principalmente, seu uso político. Por mais que achasse justa a maior parte das reivindicações e reconhecer sim as falhas por parte do Poder Público, discordava muito dos métodos e procedimentos adotados e visão maniqueísta do Bem x Mal, inclusive com coação ao pensamento contrário, que resultaram com que me afastasse de qualquer tipo de envolvimento.
Muitas lideranças deste tipo de movimento que, com razão, apontam a partidarização das entidades estudantis (UNE, Ubes, entre outras), mas tentam esconder que não passam de células partidárias implantadas universidade. Ai passam a atacar os governos (sejam eles quem forem) e a “sociedade burguesa”, repetindo conceitos que Karl Marx pregava no século XIX e que, com certeza, teria atualizado se vivo estivesse - a exemplo de diversos pesquisadores sérios presentes nas universidades, que se dedicam à obra de Marx.
Aliás, integrantes deste tipo de movimento adoram se rotular como “Marxista”, “Hegeliano”, “Lukácsiano”, “Bakuniniano”, entre outros. Mesmo que sequer tenham lido alguma obra completa ou compreendam a real dimensão destes teóricos. Apenas se limitam a repetir frases feitas (séculos atrás) e atacar toda a alienação, que transforma a “sociedade burguesa” em "massa de manobra", alimentada pela “mídia neoliberal”.
Lembrei de tudo isso ao ver as imagens dos estudantes que hoje estão ocupando irregularmente o campus da USP, pois é indemissível esta postura dos que se julgam revolucionários, repetindo os clichês que falei, usando dinheiro público para passar por cima das leis, inclusive cobrindo os rostos de forma semelhante a criminosos.
Agora me respondam, qual revolução? A de pessoas que se julgam especiais para passar por cima das leis do Estado, mas que dependem do dinheiro dos pais até mesmo para comprar seu baseadinho? Até acho graça, pois alguns que agiam assim no passado, hoje também trabalham para “O Grande Capital” ou para "Burgueses Neoliberais da Direita". Afinal, hoje eles têm contas para pagar...
Felizmente, costumo manter o otimismo e sonho com uma universidade pública cada vez melhor. Para isso, espero muito que a comunidade acadêmica não só ataque o Poder Público, mas que se desencastele e se movimente, para que efetivamente cumpra seu papel de ensino, pesquisa e extensão. Afinal, o conhecimento deve chegar à toda população, pois, infelizmente, hoje em dia ele ainda está muito restrito às prateleiras das bibliotecas...