Vivi nesta semana um raro momento de emoção, inimaginável para mim alguns anos atrás. Assisti a um show do grande cantor Cauby Peixoto, sem dúvida, um dos maiores intérpretes da música brasileira em todos os tempos. Tenho todas as razões de me considerar um privilegiado, afinal, hoje em dia são poucos os shows que o artista tem feito fora de São Paulo.
E apesar de muitas restrições físicas e de saúde que os 80 anos de vida e os 60 anos de carreira lhe impuseram, felizmente, sua voz e talento permanecem inalterados.
E apresentações suas ao vivo estão cada vez mais raras, inclusive com alguns shows cancelados nos últimos anos, por imposição de sua saúde. São visíveis os sinais que o tempo passou para ele, inclusive para deixar o clube: agradeceu, mais saiu sem atender a grande fila de fãs, enquanto um carro adentrou ao ginásio para retirá-lo.
Muito por conta da necessidade insaciável por auto-afirmação que vivemos durante a adolescência, sem muita lógica para tal, tornei Cauby durante muito tempo alvo de duras críticas infundadas, principalmente, por conta do seu visual extravagante.
Ainda bem que os anos se passaram e amadureci o suficiente para compreender a real dimensão do que o cantor representa para a cultura nacional. E que belas canções e interpretações não são peças de museu, mas existem para ser eternamente lembradas e sentidas.
No show a que assisti, Cauby é acompanhado apenas pelo violonista Ronaldo Rayol, que o ampara pelo braço, juntamente com uma assessora, enquanto “A Voz” se dirige com passos lentos para o palco. Ele passa os pouco mais de 70 minutos do espetáculo sentado e, com o vozeirão m plena forma. Inacreditavelmente toma água somente antes das duas últimas músicas, além de acompanhar perfeitamente as letras das canções, com um caderninho a sua frente.
O público foi bastante variado, com uma considerável presença de jovens e crianças, embora a imensa maioria seja formada por quem o acompanha desde os áureos tempos do rádio, em que fãs ensandecidas rasgavam suas roupas pelas ruas.
Seu repertório é bem variado, desde clássicos obrigatórios como “Bastidores” e “Conceição”, músicas de Caetano Veloso, Roberto Carlos, canções em italiano, francês e um legítimo flamenco espanhol, e duas das canções que considero das mais belas dos Beatles (Yesterday e Something), entre muitas outras.
Inúmeras vezes, o artista foi aplaudido de pé durante as canções. E de cima do palco, retribuiu emocionado o carinho do público, com sorrisos, agradecimentos e beijos. Com o anúncio do fim do show, permaneceu, após os tradicionais gritos de “Mais um!”, e entoou mais três músicas.
Entretanto nesta sequência final, surpreendentemente, boa parte da platéia se levantou e criou uma bonita imagem. Afinal, muitos se esqueceram dos cabelos brancos, carecas, rugas e possíveis dores pelo corpo para se amontoar em pé diante do palco, reverenciado o ídolo de perto.
Nos minutos finais do espetáculo, cantou sucessos de outro mito inigualável, também chamado de “A Voz”, Frank Sinatra, “New York, New York” e a insuperável “My Way”. Cauby então “se convidou” para retornar a Sorocaba em breve, enquanto reverenciava a platéia em sinal de retribuição:
- “Vocês gostam de música? Sim, vocês gostam: olhem só para isso!” (apontando para a platéia em pé).
- “É só me convidarem para voltar, que eu volto. Porque eu amo cantar!”
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