O último dia 29 de dezembro marcou os dez anos da morte da cantora Cássia Eller. Apesar do fato, felizmente, podemos dizer que sua voz não se calou. O período em que viveu favoreceu inúmeros registros audiovisuais e sonoros do seu talento que, indiscutivelmente, comprovam sua presença entre as maiores intérpretes da música brasileira. Até hoje, nos mais diferentes momentos, sua obra é minha constante companhia (e sempre será!).
Inclusive o título do post, retirei da música “No Recreio”, gravação então inédita que integra o CD “Dez de dezembro”, uma produção de Nando Reis lançada alguns meses depois que ela morreu (a parceria com o músico merece um parágrafo à parte, mais para frente...). Dez de dezembro é o dia que Cássia nasceu, em 1962, e o belo clipe é composto por filmagens caseiras, onde aparece em vários momentos com o filho Chicão e a companheira Maria Eugênia.
Cássia Eller deixou uma lacuna que jamais será preenchida, por seu estilo único de interpretar. É até engraçado relembrar suas imagens no início da carreira, em que cantava de forma tímida e discreta. Timidez, aliás, marcante em suas entrevistas, em que falava baixo, invariavelmente baixava a cabeça e procurava disfarçar a tensão, trocando anéis de uma mão para a outra, apertava as próprias mãos, mudava o jeito de sentar, entre outros.
Ao longo dos anos, se afirmou. Ela simplesmente explodia e tomava conta de todo o palco com uma energia única, soltando o vozeirão rouco e demonstrando olhares, gestos e expressões faciais que contagiavam qualquer platéia.
Por muito tempo, Cássia tinha fãs e seguidores fiéis, porém, desconhecida do grande público. Seus sucessos mais conhecidos eram músicas que fizeram parte da trilha sonora de várias novelas da Rede Globo. Ironicamente, ela partiu no momento em que divulgava o “Acústico MTV”, seu primeiro trabalho a vender mais de um milhão de cópias e sua agenda de shows se intensificou.
O álbum também consagrou a versatilidade da intérprete. Conhecida pro cantar sucessos do pop-rock nacional, especialmente compositores como Nando Reis, Renato Russo e Cazuza, ela mesclou este repertório com interpretações únicas de The Beatles, Edith Piaff, Chico Science, Os Mutantes, samba de raiz da dupla Alvarenga & Riachão e Chico Buarque.
Deixei para o final a parceria entre Cássia Eller e Nando Reis. Até abordei o assunto em um texto anterior, mas vale pena voltar. É um dos casos únicos da música, arrisco até falar internacional, de vermos dois artistas se complementarem de uma forma tão perfeita.
Como disse anteriormente, me identifico muito com várias composições do Nando, que me sensibilizam de forma realmente especial. E sem dúvida, Cássia foi a melhor intérprete de muitas delas, um degrau acima de outros artistas e do próprio autor.
A relação entre os dois também era única. Sempre que os via juntos no palco ou em entrevista, me impressionava com o amor de verdadeiros irmãos que sentiam um pelo outro, explicitado nos olhares e gestos de admiração e cumplicidade mútuos.
A exemplo de “No Recreio” e “Meu mundo ficaria completo (Com você)”, Nando criou algumas das músicas de Cássia que mais gosto, casos de “Relicário”, “All Star”, “ECT”, “As Coisas Tão Mais Lindas”, entre outras. Entretanto, creio que nenhuma letra e interpretação superam “O Segundo Sol”...
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