segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

David Bowie


A segunda semana de 2016 começa mais triste. Por estas ironias da vida, menos de 72 horas depois de completar 69 anos, David Bowie nos deixa. Mesmo quem não é profundo conhecedor de sua obra, com certeza tem no inconsciente coletivo alguma ou mesmo todas as diferentes faces e personalidades que assumiu ao longo do carreira, construindo um eterno legado na cultura pop mundial.

Inclusive, lembro de minha infância, quando não fazia ideia de quem era Bowie. Entretanto, gostava daquele comercial da Pepsi dele com a Tina Turner e um verdadeiro clássico dos filmes infantis de fantasia na década de 1980: Labirinto. Assisti muito pequeno, por volta dos 4 ou 5 anos, idade em que a memória não permite me lembrar do enredo. Só me lembro que gostava muito.


Indico alguns textos que li ao longo dia que dão o devido valor a Bowie. Abaixo, reproduzo texto publicado na página do Facebook do jornalista Nelson Motta.

David Bowie morre aos 69 anos


Bowie era uma faca de vários gumes


David Bowie se despediu do mundo com ‘Lazarus’. Não entendemos




Farewell Bowie, obrigado por tudo*

*Nelson Motta


David Bowie foi um homem da Renascença no século 20, um multimídia de múltiplos talentos, para música, teatro, dança, pintura e poesia, para viver em permanente transformação. No caso, o velho clichê de que sua morte deixa uma lacuna, tem que ser adaptado à multiplicidade de seus talentos: ele deixa várias lacunas, que não serão preenchidas.

Ninguém em sua geração teve a sua capacidade e coragem para transformações tão radicais, de disco para disco, de show para show, construindo novos personagens, cada vez mais audaciosos e surpreendentes, começando com o extraterrestre andrógino Ziggy Stardust.


Bowie foi muito além de renovar e ampliar o rock and roll, fez discos com o soul negro americano e com o rock industrial alemão, com o hip hop, o jazz, a eletrônica, explorou criticamente e criativamente o mundo da moda e das celebridades, mostrou a arte japonesa para seu jovens fãs.

Com os LPs Alladin Sane, Diamond Dogs e Young Americans, ganhou status de superstar do rock. Com 30 anos se mudou para Berlim para se tentar se livrar do vício da heroína e fez um disco triste, sombrio, pesado e belíssimo em parceria com Brian Eno, que se chama apropriadamente Low. E depois Heroes, no mesmo clima frio e sofrido, um de seu melhores discos.


Bowie foi uma estrela com muitos brilhos diferentes. E, com seu carisma e beleza, também fez sucesso no cinema, contracenando com Marlene Dietrich em Just a Gigolo, o cultuado O Homem que Caiu na Terra, e o oficial inglês preso num campo de concentração japonês que tem um estranho caso com Riyuchi Sakamoto em Merry Christmas Mr. Lawrence.

Uma das grandes obras de Bowie é a produção do histórico Lp Transformer, em 1972, que consagrou Lou Reed com ( Take a ) Walk on the Wild Side, um clássico underground que atravessa gerações com seu clima pesado e transgressivo.

Um dos momentos mais alegres e divertidos de Bowie é o seu clip com Mick Jagger de "Dancing in the Street", de 1985, regravando um clássico dançante da Motown, com os dois rebolando e fazendo caras e bocas como duas loucas. E cantando maravilhosamente bem.


Bowie também administrou a sua carreira com grande talento e competência. Em 1997, unido a um empresário do show business, colocou a sua obra musical como ativos de uma companhia aberta na Bolsa de Valores de Nova York, embolsou 55 milhões de dólares e suas músicas passaram 10 anos rendendo dividendos aos acionistas.

Há 20 anos, quando se discutia acaloradamente o fim do disco e as novas tecnologias de produção e comercialização de música, ele falou do que seria o futuro da música na era digital: "Vai ser como água, eletricidade, tv por assinatura, você paga um pacote por mês e usa à vontade", antevendo os serviços de streaming de hoje.


Muitos artistas, de vários estilos e gerações, eram seus fãs e gravaram suas músicas, como o Nirvana, Duran Duran, Smashing Pumpkins, Marilyn Manson, Arcade Fire, Oasis, Ozzy Osbourne, Morrissey, Beck, Red Hot Chili Peppers e Lady Gaga. Mas os seus favoritos entre os mais novos eram Beck e o Radiohead.

Até o seu final e sua morte, Bowie fez como uma obra de arte, programando tudo em todos os detalhes. Há um ano e meio começaram os boatos de que ele estaria doente, enquanto uma espetacular exposição de sua vida e obra percorria o mundo com grande sucesso. 

Em segredo absoluto ainda encontrou forças para escrever e gravar um disco de despedida, usando o jazz, o rock e a eletrônica para uma desconstrução de gêneros e esperando o seu lançamento no dia de seu aniversário para, dois dias depois, morrer em paz, cercado pela sua família, como no roteiro de um filme. Nunca mais haverá um artista como Bowie. 


Seu maior legado é a liberdade e ousadia de fazer arte e levar beleza, emoção e reflexão a milhões de pessoas.



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